Waldir Serrão: a lenda esquecida do rock

Publicado: 27 de fevereiro de 2012 em Música, Music, Televisão
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Waldir Serrão: a lenda esquecida do rock

Por Débora Alcântara*
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Blog 2+

“O pai do rock baiano? Acho que sou eu né?”, afirmou Waldir Serrão, o Big Ben baiano, que aos 70 anos, sentou-se numa cadeira humilde do abrigo Lar São José, na Ladeira dos Bandeirantes, em Brotas, onde mora, para pensar sobre o assunto durante longos segundos antes de responder. O Diabo e Raul Seixas devem ter passeado  pelas conjecturas do velho Big, mas sem pestanejar, abriu o verbo: “Eu comecei tudo. Fui eu quem levou Raulzito para esse mundo, mesmo contra a vontade de Dona Maria Eugênia, a mãe dele. Mas ele morreu roqueiro”, recorda Big do parceiro, com quem teceu a fidelidade de ser Maluco Beleza na vida, desde que se conheceram, ainda garotos, na Cidade Baixa, quando se vestiam de Elvis Presley, com brilhantina no topete.

Big Ben, à direita, dançando com
Raul Seixas, à esquerda

Se a alcunha popular de “pai do rock” é dada a Raul Seixas por conta de seu irreverente protagonismo musical badalado dentro e fora do Brasil, diversos músicos contemporâneos concordam que o título cabe antes a Waldir Serrão, por ele ter sido o primeiro agitador cultural em função do estilo na capital baiana. Serrão foi o criador da primeira banda de rock que se tem notícia na Bahia: Waldir Serrão e seus Cometas, de1957. Ele foi promotor de diversas matinês de rock quando tinha apenas 15 anos, além de ter sido o inventor do Elvis Club Rock, que chegou a mais de 80 associados nas décadas de 1950 e 1960, notadamente estudantes e técnicos e mécânicos, trabalhadores da indústria na Cidade Baixa.

“Big era um verdadeiro rei de Roma. Ele transformou o Cine de Roma no templo da juventude e do rock e foi uma das figuras mais importantes na trajetória de Raulzito e Os Panteras”, reconhece Carlos Eládio, o guitarrista da banda que acompanhou Raul Seixas até sua morte. “Ele é um ícone no País, mas infelizmente o Brasil não tem memória”, contesta Carleba, também Pantera.


Lenda perdida

Serrão cantando O Crivo, feita com Raul Seixas

De radialista, cantor e compositor de rock, a apresentador de TV, o lendário Big Ben da Rádio Bahia, apelido criado por ele mesmo ao parodiar o maior disc jockey de sua época, o carioca Big Boy, e o famoso sino britânico, Waldir Serrão passa hoje os dias num humilde abrigo, com a ajuda de parentes, tentando conviver bem com a diabetes e vencer a batalha contra a depressão, vizinha de sua mente desde que o contrato do programa Som do Big Ben, da TV Itapoan, apresentado por ele de 1972 a 1984, foi encerrado.

A irreverência de Big Ben era tanta que chegou a concorrer com a audiência de Chacrinha, seu principal inspirador, nas tardes de sábado.

“Era uma coqueluche. Mas parece que hoje essa história não tem valor”, lamenta, mirando velhas fotografias estampadas em preto-e-branco sobre o colo franzino. Nos retratos: sua juventude, os velhos amigos, as Bigbetes e o sonho aceso de viver do rock. “Muitos me copiaram, o meu jeito de apresentar, o meu estilo. Vejo isso como um marco da televisão e do rádio na Bahia”, afirmou Serrão. Ele fez questão de lembrar, orgulhoso, que artistas como Jerry Adriani, Marcelo Nova e toda a turma dos Novos Baianos, entre muitos outros, passaram pelo programa O Som do Big Ben. Fora as composições que caíram na boca do povo, como o blues O Crivo, feita em parceria com Raul Seixas, e Ainda Gosto Dela, gravada por Jerry Adriani.

“Depois de tanto sucesso… Se ele está aqui, é porque não tem para onde ir. Ele perdeu tudo, não soube conduzir a vida direito”, explica a irmã dois anos mais velha, Lurdes Serrão, sem entender a razão pela qual o mano não se esforçou para ser “um sujeito normal”, culminando numa humilde casa de idosos.  “Entrei na fase de medicação e comecei a perder o rumo das coisas. Mas acho que para tudo se tem um jeito”, reacende Serrão.

“Lembro que aprendi a ser radialista com Big Ben. Na morte de Jimi Hendrix ele me convidou para fazer uma homenagem ao mestre da guitarra. Passamos três horas transmitindo Hendrix sem parar. Quem hoje faz isso? Depois dele, a babaquice se instalou. O comando agora é das gravadoras e não mais de conceito e crítica”, disse Marcelo Nova, líder da banda Camisa de Vênus, também enquadrada como protagonista do roque na Bahia e no Brasil. Nova disse que a melhor lembrança que tem de Waldir Serrão e Raul Seixas juntos foi quando tinha 10 anos, numa festinha para as crianças atendidas na Clínica de Reabilitação de seu pai, que era médico. “Apareceu um rapaz com um babador, imitando um bebê deitado num carrinho. Esse era Waldir. O outro, Raul, empurrava. Quando o tal bebê balbuciava, Raul esbofeteava a cara do bebê. Era algo politicamente incorreto, mas que levava as crianças a se acabarem de rir”, narrou.

O fato é que a irreverência de Big Ben foi condenada ao ostracismo por um “povo sem memória”. “Sinto-me esquecido por aqueles que dei força. Nem uma palavra ou um ‘como vai’. Um dos poucos que me fazia companhia era Thildo Gama. Mas ele se foi recentemente”, lamenta, referindo-se ao amigo, o primeiro guitarrista de Raul Seixas, que morreu em outubro do ano passado.

Para dirimir esse marasmo que caiu como uma avalanche na vida de Big Ben, tem até quem pense num show para 2012 em homenagem ao roqueiro. A ideia está ainda sendo costurada pelo radialista Roque Menezes. “Imagine se artistas que passaram pelos programas de Big Ben fizessem isso?”, almeja. Animado com a ideia, Big Ben acende um entusiasmo: “Gostaria de ser lembrado como um roqueiro rebelde. Quero morrer assim como sempre fui: puro rock”.

*Débora Alcântara é jornalista
Fonte: Blog 2+ / A Tarde

http://caderno2mais.atarde.com.br/?p=3712

A TARDE: Waldir Serrão: a lenda esquecida do rock

A TARDE: Waldir Serrão: a lenda esquecida do rock

Waldir compôs com Raul Seixas O Crivo e Ainda Gosto Dela

Waldir compôs com Raul Seixas O Crivo e Ainda Gosto Dela

Na Rádio Bahia, comandou o programa O Som do Big Ben…

... e ganhou um espaço na TV Itapoan com atração homônima

… e ganhou um espaço na TV Itapoan com atração homônima

Banda Waldir Serrão e seus Cometas: som underground dos anos 60

Banda Waldir Serrão e seus Cometas: som underground dos anos 60

comentários
  1. Seria bom um show mesmo para ajudar o Big Ben.

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  2. Lembro muito sim, elas aí acima eram as ” BIGBETES”

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  3. cantor firmino de itapoan disse:

    REALMENTE WALDIR SERRÃO UMA LENDA VIVA ESQUECIDA PELAS POSSOAS QUE NÃO TEM
    MENMORIA PRICIPALMENTE ESSES GOVERNANTES, ESSE POVO DE TELEVISÃO APRESENTADORES QUE HOJE ESTA AI CHEIO DE BOSSA, TENDO BIG BEM A GRANDE RESPONSABILIDADE POR TER LANÇADO E DADO OPORTUNIDADE E HOJE ESTÃOCOM A CUCA FUDIDA E NEM SE LEMBRA DO RAPAZ (BIG BEM) EU SOU TESTEMUNHA DE TUDO ISSO.
    VIVA BIG BEM(WALDIR SERRÃO).

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  4. led disse:

    é a midia dita quem fica e quem sai de cena. (tome
    cuidado sabio senhor eu morri e nem sei qual foi o mês – Raul Seixas)

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  5. jardes disse:

    Waldir Serrao nâo merece ser esquecido principalmente pelos amigos que hoje poderia dar um suporte , ou seja amigos que sao amigos fazem isso o resto era so por causa da fama .

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  6. André Roberto disse:

    Eu participei do programa dele no quadro ”painel da fortuna giro da sorte” em 1982, em pleno alge dos ”menudos” representando então a cidade de Candeias Ba, competi com uma menina do bairro de Pau da Lima e venci a competição nossa!! foi uma grande festa uma alegria sem fim, eu tinha 14 anos nessa época lembro de tuto tudo como se fosse hoje em dia, eu até que gostaria de ter um vídeo desse evento pra mim ver assistir tudo outra vez!! rss Waldir te amo cara tá??!! vc é o cara vamos todos se unir e te ajudar ok? vc me fez muito feliz naquela tarde de sábado e recordo com muito amor e carinho a primeira vez em que apareci num programa de tv diante das cameras e todo o estado da Bahia me assistindo! fui realmente uma celebridade da época! eu me chamo André Roberto hoje sou professor de piano aqui em Monte verde MG!

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  7. celeste disse:

    Tvs bainas por-favor resgate o inesquecível big bem para que os nosso jovens se espelhe e deixe de ficar só pagodeando !!!

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  8. Rogério disse:

    Passei tardes felizes da minha infância assistindo Big Ben aos sábados!! Sou vizinho do filho dele o Elvis que é meu amigo de infância! Uma pena que as pessoas esquecem pessoas como ele!!

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