Polêmica: Filósofo propõe fim das religiões.

Publicado: 28 de dezembro de 2010 em Livros

O novo anticristo
Ateu convicto, o filósofo americano propõe que a religião pare de determinar o que é certo e errado em nossa conduta
por Tiago Mali

Random House

Por segurança, o filósofo americano Sam Harris não revela onde mora. Depois de escrever Carta a uma Nação Cristã (2007) e O Fim da Fé (2009), em que diz que as religiões são responsáveis por boa parte dos males do mundo, Harris não fez muitos amigos. Recebeu milhares de e-mails furiosos, alguns com ameaças. Aparentemente, ele não quer fazer as pazes com os religiosos que o criticaram. Ph.D. em neurociência, Harris acaba de lançar nos EUA Moral Landscape (Panorama moral, ainda sem edição no Brasil), no qual defende que, para construir nossos valores, não precisamos de crenças. Bastam alguns cálculos científicos.

*Você critica cientistas que defendem a convivência entre crenças culturais e ciência. Por quê?
Sam Harris: Nos últimos 100 anos, a antropologia, baseada nos testemunhos de diferentes identidades culturais, estabeleceu que não poderia haver uma verdade moral, que deveríamos considerar os pontos de vista de todas as culturas e levar em conta seus valores. Isso se espalhou e os cientistas hoje fingem que é possível conciliar ciência e religião. Mas não é. Se, na ciência, desprezamos várias hipóteses que se mostram ridículas, por que deveríamos considerar todas as ideias, por mais bizarras que sejam, sobre os valores de uma sociedade? Há formas de organização social e ideias claramente inferiores que deveriam acabar.

*Você pode citar exemplos?
Harris: É claro que os muçulmanos estão errados uma vez que as mulheres, nessa cultura, sofrem mais do que nas outras. No Afeganistão, a expectativa de vida para as mulheres é de 44 anos, apenas 20% são alfabetizadas e a taxa de mortalidade materna (em decorrência da gravidez) é uma das maiores do mundo. Por causa da religião, aquele é um lugar terrível para ser uma mulher. Não podemos respeitar seus valores.

*Você não teme ser taxado de intolerante?
Harris: Ao criticar culturas, estou preocupado com o sofrimento terrível causado por elas. Tolerar a intolerância não é uma virtude, é uma covardia. Quem aceita o comportamento de homens muçulmanos com as mulheres, as ameaças aos jornalistas e a trabalhadores de ajuda humanitária, não é tolerante. Apenas tem uma compaixão falha.

*Se não pela religião, como poderíamos construir valores?
Harris: Há uma ciência da moralidade surgindo. O objetivo, com novos estudos e pesquisas, é aumentar o bem-estar, que pode ser medido pela expectativa de vida, taxas de mortalidade e indicadores cerebrais de prazer, por exemplo. Muito em breve será possível analisar o cérebro de pessoas em diferentes regiões do planeta para medir que tipos de prática as deixam num estado mais próximo ao da felicidade. Esse tipo de pesquisa já começa a ser feito por neurocientistas. Com esse tipo de abordagem, podemos argumentar, cientificamente, que algumas culturas estão erradas, porque são falhas em promover o bem-estar.

* A ciência é subproduto da cultura e também usada politicamente. Buscar nela os valores não seria igualmente perigoso?
Harris: Cientistas podem falhar, mas a ciência é a forma mais honesta de lidar com os valores. Ela confia em observações claras e raciocínio honesto num grau não alcançado por nenhuma outra área do discurso humano. Há, por exemplo, 21 estados americanos em que é permitido bater em crianças na escola como forma de punição educativa, mesmo com incontáveis estudos mostrando que isso é prejudicial ao seu desenvolvimento. Essa prática está baseada em ensinamentos da Bíblia. A ciência é claramente mais indicada para estabelecer esse tipo de conduta social do que as tradições religiosas.

* A religião não deve, então, influenciar nenhuma decisão?
Harris: Não. Após a globalização, nosso desafio é construir uma civilização unicultural, com os mesmos valores para todos. Não podemos tolerar argumentos radicais na saúde, por exemplo. Se os chineses agirem mal sobre alguma doença, matando milhares nas suas cidades, isso se torna um problema em todo o mundo porque tal doença pode se espalhar em horas. Meio ambiente, política e economia também não podem se sujeitar a diferentes interpretações. Só deveriam resistir as diferenças que não causam sofrimento, como na arte, na arquitetura e na gastronomia. Mas crenças díspares sobre o que é bom e ruim para as nossas vidas podem causar um dano tremendo.

IN: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI198274-17773,00.html

Revista Galileu
JANEIRO DE 2011 – NÚMERO 234
Nas Bancas.

comentários
  1. […] This post was mentioned on Twitter by Davi tiné. Davi tiné said: RT @raulseixas: Polêmica: Filósofo propõe fim das religiões.: http://wp.me/p1631F-cQ […]

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  2. celio silva disse:

    segundo os estudos deste filósofo estão completamente fora dos padrões biblicos
    pois existem milhares de pesoas que a pos entregarem suas vidas para cristo,estas foram transformadas(o mundo indeiro está pedindo paz mas sem cristo não terá jamais,o mundo
    inteiro está pedindo amor mas sem cristo só terá mais dor;meu meu caro filósofo descupa
    a fórma de expressar mas jesus vai voltar e também quer salvar sua alma,deus investiu tudo o que tinha seu filho amado para morrer por nóssos pecados,por favor amigo não deixe o sis
    tema deste mundo te influeciar,NÃO DEIXE O MUNDO TE INFLUENCIAR,deixe jesus entrar na sua vida.

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  3. Maurício Temóteo da Cruz disse:

    Acredito nas forças da natureza, da química que se forma em sua constante movimentação, não acredito em religião, cada uma se atem às suas vontades, as religiões cegam as pessoas.

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  4. Giovani Gheno disse:

    Esse Harris é bastante leviano ao propor interpretações únicas… A intenção dele parece boa, mas faz uma salada filosófica que não se sustenta.

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  5. Maconheiro sem dó disse:

    Só li besteira aqui, esse cara não tem nenhuma noção do que seja tradição ou cultura, não estou falando de “tolerância com a intolerância” como ele falou, mas creio que é possível conviver em paz, não dessa forma, mas que se foda…
    O ateu é tão rídiculo quanto um teísta, a ciência é tão idiota quanto a religião…

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  6. Café Filho disse:

    Concordo com ele quanto às religiões. Elas realmente são dogmáticas e acabam enquadrando o sujeito em algo que ninguém sabe se realmente existiu (ou existe). É apenas uma questão de crença, e as pessoas precisam se agarrar em alguma coisa, pois é muito difícil assumir as responsabilidades. No entanto, creio que ele tenha sido infeliz nas colocações a despeito das culturas. Acho que ele precisa estudar um pouco mais sobre antropologia.

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